Nunca devíamos juntar-nos a um grupo ou a outra pessoa para meditar: só o devíamos fazer em solidão interior, na quietude da noite, ou na serenidade do amanhecer. Quando assim meditamos devemos fazê-lo em verdadeira solidão interior. Temos de estar completa e interiormente sós sem seguirmos nenhum sistema, nenhum método, não repetindo palavras, não indo atrás de um pensamento, ou moldando-o de acordo com o nosso desejo.
Esta solidão interior surge quando a mente está liberta do pensamento. Quando há influências do desejo ou das coisas que a mente está a tentar alcançar, seja no futuro ou no passado, não há essa solidão. Apenas na imensidade do presente esse estado de solidão acontece. E então, em tranquila intimidade, na qual cessa toda a comunicação superficial e onde não existe observador (o "eu" condicionado) com as suas ansiedades e os seus insensatos apetites e problemas – só então, nessa serena solidão, a meditação se torna algo que não pode ser posto em palavras. Então a meditação é um sentimento intemporal.
(…) Apenas numa meditação assim surge o amor. Não nos preocupemos a dar-lhe expressão: ele expressar-se-á por si próprio. Não o utilizemos. Não tentemos pô-lo em ação: ele atuará, e quando ele atua, nessa ação não haverá pesares, nem contradição, nada que tenha a ver com a infelicidade e o sofrimento humanos.
Portanto, meditai inteiramente sós. Perdei-vos do que habitualmente sois. E não tenteis lembrar-vos do que se passou. Se tentais recordá-lo, então isso será algo morto. Se vos agarrais a essa memória, nunca mais estareis de novo sós. Meditai, pois, nessa infinita solidão, com a beleza do amor, da inocência, daquilo que é sempre novo – então acontece aquela felicidade profunda que é imperecível.
"Meditações" – Krishnamurti